quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mulheres Bonitas

" As mulheres bonitas são bonitas sempre, mesmo com pouca luz. Até mesmo sem luz nenhuma. É que as mulheres bonitas têm a luz por dentro e por isso acendem sempre os cigarros dos outros sem ser preciso chama. Depois disso fica-se só ali a inalar o fumo e a fazer bolas que se perdem no ar, enquanto distraídos olhamos para elas. As mulheres bonitas têm um riso especial e a frontalidade da graça sem vergonha. É que elas não precisam ter vergonha de nada. Elas podem-se se vestir de festa ou despir-se de tudo, que continuam sempre bonitas. Podem rir à gargalhada ou chorar as desventuras dum caso mal resolvido. Podem gritar de raiva ou rodopiar na sala, como se nada mais houvesse que as prendesse ao chão. As mulheres bonitas, mesmo quando a tristeza começa a enrugar a testa e ao canto dos olhos aparecem riscos, têm sempre um brilho irresistível. Aliás dois. O que lhes sai sem controlo na espontaneidade de um sorriso e o que se as envolve, numa aura que deixa cauda quando passam. O mistério das mulheres bonitas é insondável. Não tem a ver com o nariz, nem com a boca, nem com o caracol mais comprido. Não tem a ver com a balança, nem com o azul ou o verde, o loiro ou o ruivo. Também não tem a ver com os livros, nem com os filmes nem as vezes que vão ao teatro. As mulheres bonitas só não podem ser fúteis mais que a conta. Porque essas não são bonitas, são só mulheres vistosas. As mulheres bonitas não precisam ser muito eruditas. Nem muito viajadas. Elas conseguem fazer duma viagem à Trafaria uma Odisseia até ao fim do mundo. Porque as mulheres bonitas fazem tudo ficar maior. Ficar mais cheio. As mulheres bonitas tem esse dom de fazer crescer o desejo e o sonho. De aguentar a espera enquanto tecem e desfazem o tempo certo da vontade. Ai a vontade... As mulheres bonitas são com quem apetece acordar de manhã. E sair e voltar. São com quem apetece beber champagne. Ou comer tremoços. Com que se vai ouvir fado vadio. E se despe o roupão antes de entrar num jacuzzi rodeado de palmeiras. Com elas apetece um livro e a areia fina. O vento nos cabelos e os braços na cintura numa curva mais apertada. Com elas a garrafa de água no topo da montanha depois do cansaço da escalada é um banho de oceano. As mulheres bonitas são esta viagem. Esta viagem que se vê nas bolas do fumo a subir, numa noite quente quando se acende o cigarro e o mundo não precisa ser mais do que aquilo que é. "
Eduardo Pinheiro

Obrigada Eduardo! Lindíssimo texto

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